terça-feira, 18 de março de 2008
Minas de Amor

No Domingo, Abbá, fui a Fátima. Prenda de anos de minha tia, um pouco atrasada, porque ela faz anos em Janeiro... Mas fomos lá, porque se há alguma coisa à qual ela não diz que não, é uma ida a Fátima.

Fátima é, para ela, a tua capital... Não sei se lhe escapou alguma caixinha das esmolas para contribuir, mas deve ter escapado, elas são tantas.. Já antes e termos entrado no santuário, viam-se lojas de imagens, quadros, santos, cabecinhas e bracinhos e perninhas de cera, tudo abençoado e embalado para levar! E entristece-me... Vês o que fizeram de Ti, Abbá? Fizeram de Ti uma espécie de prestação pecuniária, um pagamento para salvação de alminhas. Fizeram de Ti um senhorio para lhes fazeres coisas, e depois pagam-te... Oh, Abbá, fizeram de Ti o que queriam que fosses... Fizeram de Ti um mágico todo-poderoso... Fizeram-Te a imagem deles, cheio dos defeitos que os caracterizam... Claro, é tão mais fácil acreditar em magia..é tão mais fantástico, mais espectacular aos olhos... E sobretudo, é mais confortável do que um Deus que propõe mudança...! Porque propões mudança em nós mesmos! E é mais fácil se fores tu a fazer tudo, enquanto esperamos que acabes, bem instaladinhos no sofá... Fizeram de Ti exactamente aquilo que o mundo faz de tudo. Tu fazes um favorzinho lá com o teu estalido de dedos (se fosse fácil, até o faríamos nós), e a gente paga-te pelo serviço! Por isso é que só serves quando tudo o resto falha...!

Mas não escrevi este texto para me lamuriar da Igreja imperfeita que criaram. Adiante.

Fomos ver a Igreja da Santíssima Trindade, Abbá, e eu gostei, sabes porquê? Não tem santos de mármore, imagens tenebrosas e de olhar ríspido, quase condenando algo que ainda nem sequer fizemos... Tem imagens, passagens bíblicas de situações que são o teu rosto. Sim, Abbá, foi uma surpresa, ver as redes dos pescadores de homens, foi uma surpresa ver que na entrada, escrita em todas as linguas (nem sei bem quantas há, na verdade, mas deviam ser todas), a primeira frase que o sacerdote diz na Eucaristia, que eu não sabia de cor até a ter lido ali, e pensado que aquilo até tem uma significado bonito: “A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco”. Claro, podiam dizer “connosco”, senão parece que nos estão a entregar um produto. Mas é bonita, e o facto de estar naquelas portas de vidro deu-me uma sensação de união com todos. Adiante.

Atravessámos então o santuário (ainda faltavam as esmolas na capelinha das aparições e na basílica). Enquanto a minha avó entrou na Capelinha, a minha tia e o meu pai foram à Basílica. E eu, para te falar um bocadinho, afastei-me daquele murmurinho que nos envolve sempre que está muita gente a “rezar” no mesmo sítio. Fui para perto daquela “rotunda” a meio do santuario. Dali dava para ver tudo. De um lado, a Basílica, magestosa pedra erguida no alto, empunhando uma coroa dourda que reluzia ao sol, ladeada por figuras de pedra (deviam ser santos) em cima do coberto...ao meio, de um lado a capeliha das aparições (e por trás o sítio das velas – aquilo tem um nome esquisito), e do outro um presépio em pedra... e atrás, a nova igreja, com a “cruz alta” ao lado, bem como a estátua do Papa João Paulo II, bem mais pequena...

E o mais importante... dava para ver as pessoas. Umas aglomeradas na capela, outras subindo e descendo escadas para a Basílica, outras com máquinas fotográficas... Mas ainda não tinha encontrado o que estava à procura. Sei que estava a falar contigo de alguma coisa importante, Abbá, estavamos a falar de tolerância e paciência, porque tinham acontecido algumas coisas nesse dia que me tinham levado “aos arames”... Coisas que, somente pela minha imperfeição, tinham levado a que o meu coração se tivesse estado a corroer, ainda que me tenha controlado (já és um princípio!:P)...estava a partilhar sobre esta minha “coisa” de ser assim, e então vi o que estava à espera. Bem perto de mim, um menino e uma menina, os dois pequenitos, não deviam ter mais que 5 ou 6 anos, abraçavam-se tão ternamente... olhavam um para o outro uns segundos, e depois voltavam a abraçar-se, e pegavam nas mãos um do outro, e acompanhavam os pais... Lembro-me de sorrir, Abbá, porque não lhes importava o facto de estarem rodeados de santos de pedra de ar tristonho e de sofrimento, de pessoas a esfolar joelhos, de cristos de aço inoxidável, e de nossas senhoras, e de velas, e de terços... Como se mais do que penitências, o mais importante para eles fosse que o outro recebesse aquele abraço...e ainda bem que era.

Lembro-me de sorrir, Abbá, por pensar que o mundo está minado de nós! Está minado de Amor! Eu Sorri, Abbá, porque tu és tão diferente... És tão diferente daquilo que dizem que Tu és... E ainda bem... A sério querido Abbá, Papá, sei que estavas a olhar para aquelas crianças e só te faltava babares-te ! Sei que enquanto falavas comigo já ias de olho nelas há muito tempo...e em mais umas quantas, tenho a certeza.

Obrigado, Abbá, por eu conseguir Ver, pelas mediações que puseste na minha vida. Obrigado pela força para lutar.

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por David a 18.3.08 | Permalink |


3 Comments:


  • At março 18, 2008, Blogger Inês

    "A sério querido Abbá, Papá, sei que estavas a olhar para aquelas crianças e só te faltava babares-te ! Sei que enquanto falavas comigo já ias de olho nelas há muito tempo...e em mais umas quantas, tenho a certeza."

    Oh David... Muito OBRIGADA!

    OBRIGADA OBRIGADA OBRIGADA!
    Que partilha mais fenomenal. Adorei a simplicidade... É mesmo muito bom que ainda haja pessoas a tirar um significado tão bonito da "capital do Abbá".

    Gosto tanto de te ver assim... :D

     
  • At março 22, 2008, Blogger Levi

    Estás em grande sr...
    Magnífica a partilha.Deliciosa.
    Obrigado

     
  • At março 24, 2008, Blogger Ricardo Ascensão

    Oh David...
    Que partilha bonita...

    Obrigado!

    Estamos unidos ;)

    Abraço*