"Era uma vez uma menina.
Menina doce como o açúcar. Menina linda como a lua. Menina de olhos vivos como os do falcão.
Todas as noites a menina ao adormecer olhava pela janela e dizia que um dia iria caminhar todos os caminhos do mundo. Passo a passo. Todos os lugares do mundo.
Conhecer todos os rostos, de todas as pessoas.
Uma noite, como todas as outras noites, saiu pela janela, e começou a andar. A estrada era longa. Andou muito tempo.
As primeiras horas foram feitas por caminhos que conhecia.Depois vieram as estradas e os lugares que ia descobrindo. Sozinha. Olhando e observando tudo. Sozinha.
Ao fim de uns dias começou a falar com pessoas. Todas as que lhe apareciam pela frente. Falava, apaixonava-se, deixava-se ficar por uns dias. Das pessoas recebia um pouco de cada gesto.
Depois olhava e via que tudo o que dava ficava por lá. Nas mãos das pessoas que a não queriam desprender. Ou que queriam mais… dando tão pouco. Houve mesmo um que lhe levou tudo o que tinha para dar. Até o seu coração. E deixou tão pouco.
Assim, passado dias partia. Seguia a estrada sempre em frente. Sempre à espera de encontrar um lugar, ou mesmo nenhum lugar. Não era preciso mais nada. Só conhecer o mundo.Um dia, quase perto do fim do mundo, a menina olhou para a estrada. Um cruzamento. Quatro caminhos. Toda a sua caminhada havia sido feita sempre em frente. Mas naquele dia, naquela hora do lado contrário surgiu um menino que lhe disse:
-“Olá.”
O menino tinha o cabelo castanho como os troncos das árvores e um sorriso que não acabava de ternura.Conversaram durante horas sentados na berma da estrada.
O menino contou que um dia havia fugido pela janela. Queria conhecer o mundo. E andava sempre em frente nos caminhos. A menina contou o mesmo.
E falou-lhe das pessoas.Passaram-se horas, dias, meses, anos.
Hoje, no cruzamento, no lado direito de quem vai em frente existe uma casa. Com um jardim com muitas flores. É impossível não dar com ela. Lá, vive um menino e uma menina. E conversam sempre.
Todos os dias, sobre os caminhos que a vida tem e tão misteriosamente cruza." *
